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Diretoras do CNB/PR abordam representatividade feminina no extrajudicial

Publicado em 01/04/2022

Mês da mulher reforça a discussão sobre a igualdade de gênero na sociedade 

O dia 8 de março, mundialmente conhecido como Dia da Mulher, é um marco importante para relembrar e reforçar a luta feminina em busca da igualdade de gênero durante os anos. Muito embora ser de extrema relevância ter um dia que marca a discussão igualitária, é relevante, também, abordar o assunto ao longo do ano.

O avanço da presença feminina no âmbito profissional é promissor e cada vez mais evidente no país, mesmo que ocorra de forma gradativa. Prova disso é o estudo apresentado na terceira edição do Cartórios em Números – cartilha anual elaborada pela Associação dos Notários e Registradores do Brasil (Anoreg/BR) – onde evidenciou que 6.368 titulares mulheres estão à frente de Cartórios de Notas e de Registro no Brasil, em comparação aos 6.613 titulares homens.

A crescente representatividade feminina no âmbito extrajudicial também respinga nas associações que representam os cartórios do Paraná, como ocorre na diretoria do Colégio Notarial do Brasil – Seção Paraná (CNB/PR), tendo como exemplo a 1ª secretária Priscila Volpato Oliveira Pontes e a tesoureira Nara Darliane Dors, que já fazem parte do time diretivo há mais de uma gestão.

Sendo ambas tabeliãs há 13 anos, as diretoras possuem muita bagagem no que tange a experiência e o intelecto sobre o ramo. Mas, apesar de hoje estarem em postos de liderança, a trajetória não foi isenta de dificuldades.

A trajetória para ingressar no foro extrajudicial

Para Priscila, titular do 5º Tabelionato de Notas de Curitiba, a maior dificuldade que sentiu ao ingressar na carreira cartorária foi ter acesso a material específico sobre a área notarial e registral para prestar o concurso para agentes delegados. “As matérias relacionadas ao foro extrajudicial são muito particulares e não são objeto de questionamento nos concursos em geral. Assim, eram muito poucos os livros e cursos disponíveis. Quando cursei a faculdade, esta área do Direito mal era comentada. Existia uma desinformação generalizada deste âmbito do Direito”, conta.

“Outro fator que acompanha a mulher e se torna um desafio na condução da carreira profissional é a maternidade. Prestei o concurso de remoção estando grávida de 40 semanas! Fiz a prova oral num dia em Curitiba, e meu filho nasceu no outro dia, em São Paulo”, complementa.

Em concordância com a dificuldade enfrentada no concurso extrajudicial, por ser um dos mais concorridos da carreira jurídica, a titular do Serviço Distrital do Pinheirinho de Curitiba, Nara Darliane Dors, comenta que, apesar de não ser um caminho fácil, a profissão é recompensadora. “A atividade notarial e registral nos aproxima muito do cliente, das pessoas que necessitam de orientação jurídica e de segurança para a prática de muitos atos, por isso qualquer dificuldade para ingressar na carreira é recompensada pela certeza de que podemos fazer diferença na vida das pessoas de uma forma boa, algo que a profissão de tabeliã me mostrou muito ser possível”, comenta Nara.

A igualdade de gênero na sociedade

“O machismo estrutural é muito difícil de ser visto. A mulher precisa sempre se provar capaz de exercer alguma função, ainda que tenha a mesma formação e competência que o homem”, é o que diz a tesoureira quando o assunto da igualdade de gênero é levantado. Para a tabeliã, o gênero não deveria ser um medidor de capacidade ou de definição se uma pessoa é boa ou ruim. “O gênero sequer deveria ser fator de distinção”, afirma. “Infelizmente, porém, nem sempre é a competência que importará, trata-se de oportunidade. Neste ponto, embora o Brasil já tenha evoluído muito, o caminho ainda é longo para que possamos dizer estarmos em uma sociedade igualitária em que as oportunidades são as mesmas para homens e mulheres”.

Para Priscila, mesmo que a sociedade esteja caminhando, ainda não se pode afirmar que há igualdade entre os gêneros feminino e masculino. “Estamos caminhando. Temos tido alguns bons exemplos de respeito à mulher, a quem deve ser permitido ter acesso às mesmas responsabilidades, direitos e oportunidades, mas ainda estamos longe de alcançarmos a tão falada igualdade de gênero. O caminho é longo, árduo, atravessa gerações, e depende de fatores múltiplos, como educação e políticas públicas”, assegura. “[…] A desigualdade de gênero está profundamente arraigada na sociedade. Infelizmente, mudanças de comportamento levam muito tempo para mostrarem seus efeitos”.

Liderança feminina nos cartórios extrajudiciais

Apesar do cenário ser promissor quando se compara o número de mulheres que ocupam titularidade em cartórios extrajudiciais, o número continua sendo menor em comparação à quantidade de homens que ocupam o mesmo cargo. Nesse cenário, é possível refletir sobre o impacto positivo que a discussão da igualdade de gênero causa no ramo cartorário.

Sobre o assunto, a secretária do CNB/PR reflete que “o aumento do número de estudantes mulheres no curso de Direito contribui com o aumento de mulheres titulares de serventias extrajudiciais”, sendo um fator que revela que as mulheres estão, gradativamente, “ocupando espaços com histórico de predominância masculina”. Além disso, para ela, também “revela a força feminina pois, em muitos casos, após um dia intenso à frente da serventia, [a mulher] ainda terá o desafio de dar atenção à família, ao desempenhar o papel de mãe e mulher. Em outros casos, também conciliará a jornada de trabalho com o curso de mestrado, doutorado e de especialização”.

Para falar sobre a representatividade feminina nos cargos altos dos cartórios, Nara retoma a dificuldade dos concursos extrajudiciais para afirmar que “é preciso considerar que as mulheres se encontram em desvantagem para se preparar para os concursos mais valorizados e concorridos”, diz.

“Um exemplo de desvantagem é a decorrente da divisão sexual do trabalho, onde as mulheres dedicam, em média, muito mais horas no âmbito doméstico ou cuidado familiar do que os homens, restando-lhes menos tempo disponível para os estudos e, por consequência, para competir em igualdade de condições com eles. Assim, quando vemos o número de mulheres à frente de cartórios aumentar, certamente identificamos que a luta pela igualdade de oportunidades tem surtido efeitos, da mesma forma que o esforço feminino para buscar o protagonismo tem aberto portas cada dia mais”, assegura.

Diretoria do CNB/PR

As mulheres estão presentes há várias gestões diretivas do CNB/PR, tendo, inclusive, o feito histórico de eleger a primeira mulher à presidência em 2019. Ocupando diferentes cargos, as diretoras estão há mais de um biênio com a responsabilidade de, junto ao Colégio, trabalhar em prol da defesa da classe notária. Para a secretária, fazer parte da diretoria implica em muita responsabilidade, visto que “o Colégio Notarial tem a função de defender os interesses legítimos de seus associados junto aos poderes constituídos e à sociedade, além de lapidar a atividade notarial trazendo informações, notícias, discussões relevantes para a atuação profissional do notário”, ressalta Priscila.

Para Nara, é um orgulho fazer parte da diretoria do CNB/PR e de “fazer presente a voz feminina nas causas mais importantes do notariado paranaense”, diz. E complementa. “O Colégio Notarial do Paraná sempre foi um ambiente democrático e aberto a todos. A chegada de um número cada vez mais expressivo de mulheres aos cargos de Diretoria reflete que a instituição vem evoluindo e se fortalecendo cada dia mais. As novas lideranças femininas têm a oportunidade de envolver ainda mais a instituição em causas afetas à igualdade, eliminando barreiras e garantindo o acesso a todos às decisões organizacionais”, reforça a tesoureira.

Importância do protagonismo feminino no foro extrajudicial paranaense

Por muitos anos diversas profissões foram exclusivas aos homens e na esfera jurídica essa realidade não foi diferente, inclusive no que tange aos cartórios. Segundo Nara, há algumas décadas pouco se falava de tabeliãs mulheres assumirem o cargo de titular nos cartórios, visto que era um posto quase que exclusivamente masculino. “A mulher, sempre que lhe foi dada a oportunidade, demonstrou ter a mesma a capacidade, competência e força para desempenhar as funções inicialmente masculinas. O notariado não é diferente. As mulheres já há muito tempo vêm demonstrando serem excelentes tabeliãs, conduzindo suas serventias com maestria e competência, engrandecendo a atividade com um olhar mais sensível e humano, salutar à análise das questões notariais. Essa força e sensibilidade é o que precisa o notariado paranaense para se fazer cada vez mais forte e uno”, opina.

A introdução de mais mulheres nos cartórios, segundo Priscila, significa que “além de realização pessoal e profissional, mostra a busca real e diária pela igualdade de gênero”. “Mulheres são tão competentes quanto homens. Podem gerir com muito esmero uma serventia extrajudicial. São ótimas profissionais, sensatas, técnicas, trazem consigo uma sensibilidade que se torna uma importante ferramenta no trato diário com pessoas em situações diversas”, diz.

Para a secretária, é importante que a sociedade enxergue as mulheres desempenhando a atividade notarial. “É importante que a sociedade veja mulheres desempenhando esta atividade. Traz frescor, oxigena a nossa área. Vejo colegas jovens, mães, absortas no desafio diário de prestarem um bom serviço à sociedade, buscando aperfeiçoamento profissional, com profundo senso de justiça social”, comenta.

“Este contorno trazido recentemente em maior dimensão à classe de tabeliães somente enriquece a categoria ao mostrar seu traço humano e real. E este panorama somado ao já conhecido e tradicional revela um retrato de sociedade, que é essencialmente diversificada, e requer respeito”, finaliza a tabeliã.

Futuro da representatividade

Abrir caminhos em uma profissão que outrora era dominada pelos homens requer muita força e coragem por parte das mulheres. Trazer o assunto da igualdade de gênero anualmente à tona, como feito especialmente no Dia Internacional da Mulher, muda gradualmente a realidade de milhares de mulheres. Porém, além do presente, muito se pensa em relação do futuro dessas mulheres e de futuras gerações que trilharão para o universo extrajudicial.

No que diz respeito às portas abertas por diversas mulheres, Priscila espera que haja sedimentação do caminho percorrido até aqui. “Espero que esta mostra da capacidade da mulher seja definitivamente reconhecida, além de abrir outras possibilidades de conquistas. Todos saem ganhando”, afirma.

Para Nara, muitos aspectos já melhoraram. “Hoje, por exemplo, existem muitas mulheres em posições de liderança e com ótimas carreiras, mas para outras tantas, ainda há muito caminho pela frente”, diz. “É muito importante que as mulheres criem uma rede de colaboração, sejam mentoras para aquelas que estão em início de carreira e participem ativamente na contribuição e no crescimento umas das outras. Devemos cada vez mais valorizar e estimular a seleção imparcial, apoiar iniciativas que promovam a mesma renumeração para cargos equivalentes em nossas serventias de forma a garantir as mesmas oportunidades. Ser o instrumento da igualdade que queremos e trilhar o caminho para que muitas nos sigam pela carreira notarial”, expõe.

 

Fonte: Assessoria de Comunicação – CNB/PR